Em defesa de Bento XVI
1. Confrontado com o alastrar de denúncias de abusos sexuais de menores por parte de membros do clero católico, e na sequência do trabalho desenvolvido enquanto Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Papa Bento XVI tudo tem feito para urgir a purificação da Igreja e acabar com a cultura de encobrimento que, durante décadas, foi usada em muitas dioceses de vários países – a carta aos Católicos da Irlanda, publicada a 19 de Março, é apenas o exemplo mais recente e vigoroso deste empenho do Papa.
2. Nesta busca de transparência e conversão, a Igreja Católica já foi mais longe do que qualquer outra instituição, pública ou privada – as quais, durante décadas, usaram da mesma política de encobrimento face a situações semelhantes vividas no seu interior. Isso não desculpa, como é evidente, o que aconteceu nas instituições da Igreja – pois estas devem sempre reger-se por padrões mais exigentes do que aqueles praticados pela sociedade. O facto é que apenas a Igreja Católica foi colo-cada no pelourinho. Mas compreende-se, se pensarmos que este julgamento público e sem direito a defesa acontece numa comunicação social ávida de escândalos e, em muitos casos, ao serviço dos “poderes de facto” que dominam a sociedade – embora encham a boca com a denúncia do suposto “poder” da Igreja.
3. Bento XVI, mais do que ninguém na Igreja, tem suportado as dores e penitên-cias desta longa quaresma, ainda sem fim à vista. Infelizmente, não poucos católicos têm acrescentado peso à cruz que ele vai corajosamente carregando: uns, pelo silêncio de quem não ousa uma palavra em defesa do Papa; outros, pela compla-cência com as mentiras que se vão publicando (veja-se o modo descuidado como até alguns media católicos trataram a mentira do New York Times sobre Bento XVI); não poucos, por palavras acintosas em relação a Joseph Raztinger, reveladoras da má fé com que, desde o início, acolheram a sua eleição à cátedra de Pedro.
4. Uma coisa, porém, é certa: como afirma Marcello Pera (Corriere della Sera, 17 de Março de 2010), os católicos que julgam poder ficar descansados, assistindo impassíveis à via crucis do Santo Padre, até à sexta-feira da paixão, ainda não per-ceberam nada: não perceberam que “esta guerra do laicismo contra o Cristianismo é total. É necessário lembrar o nazismo e o comunismo para encontrar algo semelhan-te. Mudam os meios, mas o fim é o mesmo: hoje como ontem, aquilo que se preten-de é a destruição da religião. [...]. A destruição da religião implicou, então, a destrui-ção da razão. Agora, não implicará o triunfo da razão laica, mas uma outra barbárie”.
5. Estes católicos não perceberam que a perseguição ao Santo Padre não é por causa dele, mas porque quem a leva a cabo sabe perfeitamente que toda a Igreja Católica sofrerá as consequências se, pela mentira e pela insídia, Bento XVI for moralmente destruído. E esse, sim, é o verdadeiro objectivo. E não perceberam também que de pouco lhes servirá permanecerem como espectadores, julgando, assim, defender o seu bom nome social, passando despercebidos aos olhos do ini-migo e caindo nas boas graças do mundo. Porque a barbárie que Marcello Pera vê no horizonte, com a destruição do Cristianismo na Europa, será também “a destrui-ção da Europa”, no lugar da qual restará apenas o multiculturalismo e o relativismo que tudo igualam pelo mínimo denominador comum.
5. Isto é o que os católicos “de braços cruzados” precisam de perceber. Voltando a Marcello Pera, defender Bento XVI não é necessário porque ele precise das minhas palavras – “Bento XVI permanece inexpugnável na sua imagem, na sua serenidade, na sua inteireza, firmeza e doutrina. Basta o seu sorriso para pôr em debandada um exército de inimigos”. Defender Bento XVI é necessário porque, nele, é a Igreja e o Cristianismo que estão em causa. É uma cultura e uma civilização. É uma ideia de Europa. E sem esta ideia, o que nos resta é a barbárie. Os teólogos “dissidentes”, os bispos “cautelosos” e silenciosos, os cardeais “críticos” podem não entender ou não querer entender isto. Oxalá haja quem os substitua na linha da fren-te, porque as batalhas que por aí vêm não serão menos duras do que esta que Ben-to XVI, quase sozinho, continua a travar.
Elias Couto
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