22/12/09

Faça-se a Festa!

É nossa responsabilidade celebrar em toda a plenitude este momento fascinante e tremendo em que Deus se faz um de nós

Multiplicam-se, por estes dias, as reflexões sobre o que se deve celebrar no Natal e sobre a forma como isso se faz. À margem das imagens desenfreadas que todos os anos se repetem, é justo salientar que toda esta correria que consome tanto as pessoas acabará por dar lugar a um tempo de paragem, de celebração e mesmo de reflexão, nas horas finais do dia 24 e no dia 25.

O essencial, pode dizer-se, está em perceber que há festa. Na minha Madeira natal, aliás, toda esta quadra é “a” Festa, assim, sem mais, porque é mesmo disso que se trata. Mais do que preocupar-nos com a paganização ou não destes dias tão carregados de simbolismo para qualquer cristão, é nossa responsabilidade celebrar em toda a plenitude e esplendor este momento fascinante e tremendo em que Deus se faz um de nós, para percorrer os caminhos da nossa história.

Pode ser que estejamos enferrujados, porque nada nos faz festejar, ou, pelo contrário, vivamos numa espécie de sonambulismo, em que mais festa ou menos festa vai tudo parar ao mesmo. Mas esta, a do Natal, é mesmo especial e é quase impossível resistir aos seus muitos encantos, que este ano ainda por cima chegam cobertos com um manto de frio que nos remete para uma memória colectiva de outra parte da humanidade, mais habituada a lidar e a cantar o Natal branco – a ver vamos se as alterações climáticas não nos obrigarão a inventar canções próprias…

Um dos segredos desta celebração é o saber partilhar. Com os que nos são mais próximos, com aqueles que professam a mesma fé no Jesus que se fez Menino e viveu entre nós, com os que em todo o mundo fazem destes dias uma ocasião especial de encontro, de júbilo, de mudança. É também oportunidade para olhar em volta e perceber quem está com menos vontade de festejar e ajudar, sem pretensões de superioridade nem julgamentos sumários.

São muitas as palavras que ganham uma nova dimensão nesta quadra, mesmo que estejamos habituados a olhar para elas com alguma indiferença, cepticismo ou mesmo pessimismo. Indo além da dimensão social/solidária que a celebração tem vindo a ganhar, de forma sustentada, há em todos os cristãos uma certeza que tem de ser dita e repetida até à exaustão: Jesus, o Cristo, veio até nós e montou aqui a sua tenda. Assim é mais fácil acompanhar-nos, onde quer que vamos.

Faça-se a Festa!

Octávio Carmo


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15/12/09

A marca Natal

O Natal revela-se como força capaz de gerar comportamentos positivos em todos os que o assinalam. Muito mais naqueles que o celebram

Analisar o que acontece nas sociedades globalizadas na quadra natalícia oferece novos horizontes ao que se celebra, ou se assinala. Não apenas na perspectiva religiosa - a primeira em todos os estudos e reflexões que queiram inteirar-se aprofundadamente do que se cria ou transforma por estes dias -, mas em muitas outras, que estão aparentemente distantes de acontecimentos transcendentes e religiosos, mas que deles muito se abeiram. Talvez porque só assim é possível encontrar sentido para a pessoa humana e a sociabilidade que edifica com os outros e com as coisas.

Em cada pessoa, nestes dias, são espontâneas as recepções do bom e do belo, a capacidade e a vontade de ajudar, de estar próximo de quem precisa, de dar tempo ou dinheiro para oferecer momentos de felicidade ao outro. É a solidariedade no seu momento forte. Com o perigo de ficar esquecida ao longo de muitos mais dias do que naqueles em que é criativamente exercida. Mas com valor evidente por, pelo menos por momentos, tornar possível o encontro de cada pessoa com aquilo que nela é genuíno: um ser em relação equilibrada com os outros.

A força destes dias torna-se particularmente expressiva no que gera de troca, de encontro, de visibilidade externa, de cintilância social. E acontece de forma espontânea, diferenciada e condizente com gostos, condições ou opções pessoais ou de grupo. Mas acontece. Sempre.

Porque se torna incontornável a todas as populações, revela-se uma "marca forte", que não permite indiferença e provoca comportamentos. Assim, os "resultados" de cada quadra natalícia seriam os mais positivos se analisados à luz de critérios publicitários ou de marketing. Não apenas numa perspectiva comercial, sobretudo pessoal, comportamental, social.

Em causa, mesmo no mundo dos negócios, não estão só compras ou presentes. Também a pessoa humana. Por isso, o Natal revela-se como força capaz de gerar comportamentos positivos em todos os que o assinalam. Muito mais naqueles que o celebram, porque permitem que aconteça, em cada ano e na mesma singeleza da cena do Belém, a inauguração de uma nova Humanidade, a de Deus.

Paulo Rocha




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09/12/09

O Natal não é ornamento


Uma reflexão em forma de poema, pela pena de José Tolentino Mendonça
O Natal não é ornamento: é fermento
É um impulso divino que irrompe pelo interior da história
Uma expectativa de semente lançada
Um alvoroço que nos acorda
para a dicção surpreendente que Deus faz
da nossa humanidade

O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande

O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro de ocasião
A simplicidade que nos propõe
não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções

O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!
Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará

José Tolentino Mendonça



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02/12/09

Menino à janela

Não é iniciativa oficial da Igreja nem de Espanha nem de Portugal. A ideia surgiu entre nós no Facebook. E propõe uma operação simples: colocar na janela ou na varanda um pequeno estandarte vermelho com a imagem do Menino Jesus. Apenas isso, na época do Natal. Para dar visibilidade ao Menino de Belém que anda substituído por tantos símbolos que nada são e nada dizem a não ser que há abundância de quinquilharias à venda em esquina próxima.

Não é de agora esta mistura do Natal com o comércio. Até se pode compreender, como se entende a proximidade de lojas junto dos santuários e que isso constitua uma oportunidade de as pessoas terem as suas lembranças e de quem vive do comércio possa recompor-se de eras difíceis como a que atravessamos.

Mas parece que de há uns anos a esta parte o problema tem outros contornos: algum silenciamento programático, ideológico, do religioso no espaço público. Empurrando-o exclusivamente para o privado e o individual, riscando-o mesmo da história. Os suíços acabam de referendar a proibição de construir no território minaretes (torres de mesquitas). Os crucifixos receberam ordem de expulsão dos lugares públicos, foi chumbada, no início, a referência ao cristianismo na “Constituição Europeia”.

Deve afirmar-se, para bem da fé e da sociedade, o Estado laico, o respeito pelas diferentes Confissões religiosas, os direitos das crenças minoritárias, a total ausência de proselitismo ou de intromissão religiosa na consciência das pessoas. Bem como uma informação aberta sobre os diversos credos, com um total respeito pela liberdade de cada um. Mas à sombra desse legítimo cuidado não se pode riscar da história o património dum povo, a afirmação de grandes valores assentes na natureza e nas aquisições históricas e religiosas - sem se negar a evolução, a inovação, os desafios novos do presente e do futuro.

É aqui que se situa a nobreza dum povo como o nosso que não destrói os Jeró-nimos para realçar a Torre de Belém, nem retira dos seus museus preciosidades de arte religiosa que são uma riqueza profunda de espiritualidade.

É este todo que precisa ser entendido para que o nosso futuro não seja cons-truído sobre um acrílico parecido com cristal. O Natal entra neste património espiritual.

E uma vez que se esconde o nascimento de Jesus como facto central da história – da nossa história – pois que venha para a janela um estandarte que na sua humildade recorda a forma como, a contra corrente nasceu em Belém há 2000 anos, o Messias, o Filho de Deus, o Redentor, Aquele, sem o qual não entendemos a nossa história.

Na entrada em vigor do Tratado de Lisboa, não podemos deixar de saudar o seu capítulo XVII que “reconhece o contributo específico das Igrejas na integração europeia, bem como o contributo vital que prestam à vida social e cultural dos diferentes Estados membros”. E prevê um diálogo “aberto, transparente e regular entre as Igrejas e a União Europeia”.

António Rego


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