tag:blogger.com,1999:blog-47152386738078856052024-02-08T17:52:12.691+00:00Blog EcclesiaO jornalismo da Agência Ecclesia e dos Programas Ecclesia e 70x7 gera opiniões entre os profissionais que o realizam e os colaboradores em quem encontram contributos decisivos para a qualidade com que o querem desenvolver. São essas opiniões, esses olhares de um trabalho diário que se apresentam no BlogEcclesia.Onachttp://www.blogger.com/profile/13048265811303776068noreply@blogger.comBlogger171125tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-64024797407008239562012-12-18T16:00:00.003+00:002012-12-18T16:00:47.523+00:00Novo semanário em 2013Com a edição digital do semanário Agência Ecclesia teremos oportunidade de lhe enviar uma revista moderna e agradável de informação religiosa em Portugal e no mundo.
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Neste Natal nasce um novo semanário. A Agência Ecclesia prepara-se para aparecer em 2013 com um novo formato, com conteúdos renovados e testando inovadoras formas de chegar a mais leitores.
Em causa a migração para o digital do semanário Agência Ecclesia. A partir da próxima edição, chegaremos a todos os leitores não neste formato, distribuído em papel e enviado às caixas de correio dos assinantes que, ao longo de muitos anos, foram cimentando uma relação de amizade connosco; vamos tirar partido das ferramentas digitais para chegar, em cada semana, às caixas de correio, mas electrónicas, aos telemóveis, computadores e a todas as plataformas móveis dos atuais e de novos leitores.
Este projeto, decidido pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e aprovado pela Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais (onde se integra aquele Secretariado, na Conferência Episcopal Portuguesa) surge como continuidade de uma aposta na informação que remonta aos inícios dos anos 60, quando nasceu o “boletim” que está na origem deste semanário. Em cada tempo, os seus responsáveis perceberam as tendências mediáticas e os interesses dos leitores para adequar conteúdos e formatos. Agora, a migração para o digital do semanário Agência Ecclesia é mais uma dessas etapas e aquela que se impunha neste tempo.
Com a edição digital do semanário Agência Ecclesia teremos oportunidade de lhe enviar uma revista moderna e agradável de informação religiosa em Portugal e no mundo. Em dezenas de páginas, vai conjugar-se texto e imagem na divulgação de notícias, na publicação de entrevistas e artigos de opinião. Novas secções farão parte deste projeto editorial, onde as ferramentas digitais permitirão também integrar vídeo e som nas páginas de cada edição. E será possível dar espaço a iniciativas dos leitores, aos vários contextos onde se percebe a emergência do tema religião e a ação de protagonistas, de ontem e de hoje, que o tornam relevante.
Com esta edição, cada leitor pode “folhear” num computador ou numa qualquer plataforma móvel as páginas da revista. E será também possível continuar a folheá-las fisicamente, em papel. Basta para isso que faça a impressão, de toda a revista ou só do texto, e a disponibilize em sua casa ou na sua comunidade.
A quinta-feira será o dia escolhido para o semanário digital chegar aos leitores. Em causa a possibilidade de reunir informação da semana e perspetivar os dias seguintes de cada edição.
Este projeto foi divulgado, em primeira mão, aos atuais assinantes da Agência Ecclesia. E temos de agradecer a recetividade que o mesmo mereceu. Prova disso são não só as palavras de apoio e encorajamento que nos têm dirigido, como a pronta decisão de renovação da assinatura. Obrigado!
Para receber a edição digital do semanário Agência Ecclesia apenas é necessário que nos indique um endereço de email, o pessoal, da família ou o da comunidade onde reside. Faça-o para agencia@ecclesia.pt. No dia 3 de janeiro de 2013 receberá a primeira edição digital!
Até lá e votos de um Santo e Feliz Natal!
Paulo Rocha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-91798880498299013472012-12-18T15:59:00.002+00:002012-12-18T15:59:50.550+00:00Quando poderemos dizer que é Natal? Quando poderemos dizer que é Natal?
Quando os preparativos todos se avizinharem do fim
segundo o mapa que nós próprios estabelecemos
ou quando nos acharmos pequenos e impreparados,
à espera do que vai chegar?
Quando, seguras de si, as mãos se fecharem
sobre tarefas e embrulhos
ou quando se declararem simplesmente disponíveis
para a reinvenção da partilha e do dom?
Quando poderemos dizer que é Natal?
Quando os símbolos nos saciarem com o seu tilintar encantado
ou quando aceitarmos que tão só eles ampliem
o tamanho da nossa sede?
Quando nos satisfizer o vento que sopra de feição
ou quando avançarmos entre contrários
provados pela aspereza e pelo silêncio
unicamente movidos por uma confiança maior?
Quando poderemos dizer que é Natal?
Quando a fronteira do calendário ritualmente nos disser
ou quando, hoje e aqui, o nosso coração ousar?
José Tolentino Mendonça
BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-77652140843280727392012-12-05T10:52:00.004+00:002012-12-05T10:52:50.585+00:00Um balanço em perguntasÉ bom que também a Igreja se interrogue sobre se incrementou o serviço aos seniores, melhorando a sua pastoral neste domínio <span class="fullpost">
Faz-se, por estes dias, o balanço do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações vivido ao longo de 2012.
Registo, com agrado, que os responsáveis não desejam apenas contabilizar iniciativas levadas a cabo - comprazendo-se nos números cumpridos - mas pretendem, sobretudo, ver como percorrer no futuro os caminhos até agora abertos. A não ser assim, aliás, estaríamos perante mais um momento de entusiasmo estéril, por não gerar novas e melhores oportunidades para os mais velhos e mais conscientes responsabilidades para os decisores e a sociedade em geral.
Na minha ótica, o balanço tem de fazer-se transformando os objetivos desenhados no início do Ano em perguntas honestamente respondidas.
Por exemplo: Estão a ser efetivamente reconhecidos o potencial e as oportunidades do envelhecimento ativo? Aceitamos melhor os anciãos como parte da cena social e - na expressão de João Paulo II - percebemos que a sua vida “ajuda a clarificar uma escala de valores humanos”? Estamos, um ano volvido, mais sensibilizados para a importância da intergeracionalidade para a coesão e desenvolvimento da sociedade como um todo?
“Uma sociedade verdadeiramente multigeracional - disse o representante da Santa Sé na Conferência Ministerial Europeia Sobre o Envelhecimento, em abril de 2002 - é aquela em que as pessoas da terceira idade sentem que lhe pertencem plenamente, em que a sua dignidade é sempre protegida, em que elas não têm medo e em que a sua contribuição seja respeitada e a sua sabedoria apreciada”.
Neste tempo de balanço é bom que também a Igreja se interrogue sobre se incrementou o serviço aos seniores, melhorando a sua pastoral neste domínio. Deixando, por exemplo, de os considerar apenas como os mais assíduos dos praticantes, que evitam a total desertificação das missas da semana... Há, realmente, a obrigação de contribuir para a sua qualidade de vida, através de iniciativas que os envolvam fora dos atos de culto.
As nossas paróquias podem e devem, de facto, ajudá-los a manter e alargar o círculo em que se movem, pois que uma boa e diversificada rede social melhora a qualidade de vida; podem e devem atribuir-lhes tarefas - sendo o aconselhamento, enraizado na sua experiência, uma das mais evidentes.
João Aguiar Campos
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-82656927373032320262012-11-27T11:32:00.000+00:002012-12-03T11:33:16.952+00:00Tornar as igrejas abertasPrever “uma pastoral dos edifícios” (pelo menos dos mais frequentados), incentivando a fruição das obras e oferecendo aos visitantes uma leitura adequada da mensagem de que são portadores, é fundamental<span class="fullpost">
“Quando a Igreja chama a arte a apoiar a própria missão, não é só por razões de estética, mas para obedecer à ‘lógica’ mesma da revelação e da encarnação”. Palavras do Santo Padre João Paulo II, destacando a importância do património artístico na expressão e na inculturação da fé. Valorizar essa herança - a face material de uma beleza indizível - significa, pois, perpetuar a dimensão própria da obra de arte cristã.
Mas como a olhamos, mostramos e utilizamos? Leitores acostumados, mesmo os menos permeáveis à mensagem da fé, todos somos interpelados a atuar. Todos usufruímos desta herança, que nos compromete a deixar para o futuro o que também outros nos legaram.
Analisar sectariamente o património eclesial, é privá-lo da sua razão de ser, do seu sentido vivencial e celebrativo, apartado de um diálogo fecundo, que se deseja radicado na essência da experiência religiosa e da produção artística. Na superficialidade do seu entendimento, na inércia de uma atuação desconcertada, pode mesmo entroncar a insuficiência da criação contemporânea.
Uma ideia simples, mas basilar, tem sido repetidamente evocada pelo Conselho Pontifício da Cultura: tornar as igrejas abertas. Em recente texto de opinião, também D. Pio Alves o questiona assertivamente: não transmitirá a ideia de que a Igreja “fechou as portas”, este “triste espetáculo” dos templos habitualmente fechados?
Prever “uma pastoral dos edifícios” (pelo menos dos mais frequentados), incentivando a fruição das obras e oferecendo aos visitantes uma leitura adequada da mensagem de que são portadores, é fundamental. Mais do que fechá-los a sete-chaves. Tarda, contudo, a assumir-se responsavelmente entre nós.
Sandra Costa Saldanha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-86932447361933768842012-11-20T11:31:00.000+00:002012-12-03T11:32:03.790+00:00O desafio do diálogoO encanto do primeiro encontro (...) não pode iludir a questão de fundo: é importante falar das coisas que unem crentes e não crentes, mas é fundamental discutir também o que os separa <span class="fullpost">
A criação de um Átrio dos Gentios, por parte do Vaticano, para ir ao encontro de agnósticos e ateus é um sinal para toda a Igreja Católica e Portugal quis dizer presente, organizando uma sessão do projeto, em Braga e Guimarães, simbolicamente capitais europeias da juventude e da cultura, respetivamente.
O encanto do primeiro encontro deixa uma sensação de dever cumprido e abre as possibilidades que todo o futuro encerra em si, mas não pode iludir a questão de fundo: é importante falar das coisas que unem crentes e não crentes, mas é fundamental discutir também o que os separa, um fosso que muitas vezes oscila entre a indiferença e a pura rejeição. Esse passo implica sair até do próprio átrio, por parte da Igreja, e ir à procura pelas ruas, pelos espaços que não habita, sujeitando-se à crítica, ao escárnio e eventualmente à perseguição, mas sempre na convicção de que a sua mensagem é de todos os tempos e para todas as pessoas.
Os cruzamentos de reflexões e de valores podem, nesse sentido, reforçar a apresentação dessa mensagem, sem a desvirtuar, tornando-a mais apta à compreensão de quem a desconhece e mais plural para quem, dentro da própria Igreja, se limita a visões parciais, incompletas e mesmo incorretas do património ético, espiritual e religioso do Cristianismo.
Entre o ‘eu acredito em mim’ e o ‘eu acredito em Deus’, expressões ouvidas em Braga, vai um mundo de questões, de vivências, de opções de fundo que não podem ser ignoradas se o Átrio dos Gentios, em Portugal, quiser mesmo ser a porta para um novo caminho que os seus promotores pretendem. E, necessariamente, tem de deixar os limites geográficos em que se realizou e abrir-se ao país, com o apoio dos responsáveis e das comunidades católicas, para uma nova gramática do ser Igreja num tempo em que a fé não é um dado explícito no viver quotidiano. O diálogo, o verdadeiro encontro, é sempre um prazer mas é, acima de tudo, um desafio constante e nunca terminado.
Octávio Carmo</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-5999437603592185002012-11-13T11:30:00.000+00:002012-12-03T11:31:10.664+00:00A fé ensina a viver melhor?... cada vez estamos mais distantes da fonte, do original, do acontecimento, porque vivemos na novela dos comentários e das interpretações. <span class="fullpost">
A fé, manifestada em Jesus, ensina-nos a viver neste mundo. O nosso ponto de partida pode ser a passagem da Carta a Tito (Tt 2, 12), onde se diz a propósito de Jesus: “a graça de Deus, fonte de salvação, manifestou-se a todos os homens, ensinando-nos a viver neste mundo”. Esta frase é um desafio, antes de tudo, a tomarmos a sério a humanidade de Jesus como narrativa de Deus e do Homem. Nessa humanidade temos o caminho, a verdade e a vida.
Hoje sentimos a necessidade muito grande de uma fé orientada para a vida. De uma fé que possa constituir uma arte de viver, um laboratório para uma existência autêntica e não apenas para a manutenção de um conjunto de práticas fragmentárias. E precisamos reencontrar ou reinventar, a partir da fé, uma gramática do humano. A fé é um exercício muito concreto de confiança na narrativa de Deus que Jesus nos relata com a sua própria vida, com o seu próprio corpo, os seus gestos, o seu silêncio, a sua história, a poética da sua humanidade. Que se pode concluir então? Que Deus, por exemplo, não bate a uma porta que nós não temos, mas está à nossa porta e bate; que Deus não está numa época passada ou futura simplesmente, mas Deus emerge no nosso presente histórico e é aí (é aqui!) que o encontro com Ele se torna para nós decisivo.
Há um ensaio literário de uma grande autora americana, Susan Sontag, onde ela se levanta contra a interpretação, porque diz, “O mundo encheu-se de comentários, já só vivemos de coisas em segunda mão”. De facto, cada vez estamos mais distantes da fonte, do original, do acontecimento, porque vivemos na novela dos comentários e das interpretações. Há sempre mais uma interpretação que se sobrepõe, à maneira de cascas de cebola. Mas o que é a essência do (nosso) problema? O que é o núcleo fundamental? Isso como que nos escapa. E Sontag dizia que o que temos a fazer é ensinar a ver melhor, a ouvir melhor, a saborear melhor, a tocar melhor. No fundo, a exercitar melhor a nossa humanidade. Uma fé vivida aqui e agora é também uma fé que não se deixa capturar pelo labirinto epidérmico dos meros comentários, mas arrisca-se a construir como uma aventura na ordem do ser.
José Tolentino Mendonça
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-10961388246106442602012-11-06T13:26:00.000+00:002012-11-13T13:27:07.781+00:00Frei Tomás e Frei ExemploNão podemos, por isso, sossegar-nos com a paz de praticantes de estatística. Deve queimar-nos a caridade que sacode a tibieza. <span class="fullpost">
Não há paroquiano que se preze que não conheça Frei Tomás.
De palavra fácil e gesto apropriado, é um comunicador nato: os verbos escorrem-lhe conjugados na perfeição, as metáforas parecem cerejas e a voz conhece o caminho de todas as emoções.
Tem, no entanto, um defeito, Frei Tomás: chegado ao adro, é um relâmpago de pressa; e a frase mais longa que aí se lhe arranca é: “agora não, que não tenho tempo”.
Frei Exemplo vai, por seu turno, de vez em quando, à paróquia. Chega antes da hora, distribui sorrisos humildes e tranquilos comentários, que repete no final. A homilia parece sofrida, como se lhe custasse dizer algo que não lhe saia da adesão mais íntima; de modo que na igreja todos parecem suspensos de cada silêncio mais longo. Mas ouvem-no respeitosamente.
É certo que os paroquianos querem Tomás para todas as festas com solene sermão; mas a alma e o coração abrem-no, preferencialmente, a Exemplo, beneficiando da sua disponibilidade e fraterna proximidade.
O senhor Antunes, que foi quem me contou o que acabo de escrever, explica: “a gente não quer só quem diga coisas e aponte caminhos; precisamos de quem ande connosco. Há que aprender com Ele!”.
Para o senhor Antunes, “Ele” é Jesus. Por isso, nunca pronuncia o pronome sem erguer ao céu o indicador. E tem razão o senhor Antunes: Ele começou a fazer e a ensinar. Ele deixou a doutrina e as explicações para o final do gesto do lava-pés: “dei-vos o exemplo...”. Sim, os exemplos farão sempre mais que a doutrina!...
Para aqui apontou o Papa Bento XVI, tanto na Eucaristia inaugural como na conclusiva do recente Sínodo dos Bispos. Disse o Santo Padre que “os verdadeiros protagonistas da nova evangelização são os santos: eles falam, com o exemplo da vida e as obras da caridade, uma linguagem compreensível a todos”.
Urge, pois, a linguagem das obras, porque fé também o diabo tem.
As obras, disse alguém, são um argumento vivo. Nelas, se feitas em Deus, brilha a luz que nos habita e que pode iluminar as circunstâncias de muitas pessoas.
Não podemos, por isso, sossegar-nos com a paz de praticantes de estatística. Deve queimar-nos a caridade que sacode a tibieza que nos reduz ao cuidado egoísta da nossa vida e dos mínimos julgados necessários para salvar a nossa alminha...
Enquanto estiver guardado e não se perder na massa, o fermento não leveda a fornada. Temos de agir, com os dons recebidos. Como diz Rey-Mermet, “você tem uma bolota no bolso. Semeie-a e ficará sabendo que carregava uma floresta”.
João Aguiar Campos
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-48800572551308680502012-10-30T13:25:00.000+00:002012-11-13T13:26:19.510+00:00Um saudável contágioNão era necessário comunicar um modo de vida - ser católico - porque acontecia espontaneamente. Mas hoje já não acontece. E, não acontecendo, também não se sabe como transmiti-lo porque nunca fora uma prática. Quando muito, era rotina de uns poucos. <span class="fullpost">
A transmissão da experiência religiosa no catolicismo tem merecido acentua-do estudo. Em colóquios locais ou nacionais, em cursos superiores ou seminários internacionais e também nas reuniões sinodais procura-se saber como falar de Jesus Cristo nos dias de hoje, como anunciar o Evangelho, como passar às gerações futuras perspetivas para a vida de todos os dias que partem de um estilo inaugurado com um grupo de 12, há 2000 anos.
A análise a esta problemática tem de ter presente a circunstância onde acontece a maioria da transmissão de saberes e experiências entre humanos: o contágio.
Para o bem e para o mal, as pessoas deixam-se contagiar por ideias, causas, convicções. No ambiente familiar, entre amigos, no grupo de trabalho ou noutros mais circunstanciais, comunicam-se projetos, promovem-se conversas sobre problemas pessoais ou nacionais, adiantam-se os mais variados argumentos sobre quase todos os temas. E criam-se, assim, afinidades, cumplicidades.
E o tema religião? Estará afastado deste contágio?
Ao longo de muitas gerações, ele era natural. Acontecia no ambiente de cada família, representado simbolicamente na oração mariana ao redor da lareira ou no encontro dominical que a participação na missa também proporcionava. E não era necessário comunicar esse modo de vida, que incluía espontaneamente a perspetiva católica sobre tudo: as relações entre pessoas e grupos e a determinante presença do transcendente no dia-a-dia, com “intervenções” na definição de prioridades e na assunção de uma escala de valores que circunscrevia opções morais, sociais, pessoais.
Não era necessário comunicar um modo de vida - ser católico - porque acontecia espontaneamente. Mas hoje já não acontece. E, não acontecendo, também não se sabe como transmiti-lo porque nunca fora uma prática. Quando muito, era rotina de uns poucos.
Assim, está em causa alterar uma habituação, mudar paradigmas: superar práticas cristãs centradas em fórmulas e ritos pela prioridade do testemunho alegre da condição crente; renunciar a condição passiva do ouvinte e assumir o desafio da comunicação das razões que dão esperança; alargar os espaços de culto católico a ambientes de cultura católica.
Como com o primeiro grupo, há 2000 anos, o convite é pessoal, o seguimento testemunhal e a comunidade o ambiente indispensável para que aconteça, de geração em geração, esse saudável contágio.
Paulo Rocha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-69643113608642861752012-10-25T12:04:00.001+01:002012-10-25T12:04:59.037+01:00Nova evangelização?A Igreja Católica tem de enfrentar desafios novos com a sua mensagem de séculos<span class="fullpost">
O Sínodo dos Bispos que está a decorrer no Vaticano tem pela frente, até à sua conclusão, um grande desafio: assumir a afirmação definitiva da terminologia ‘nova’, aplicada à evangelização, ou optar – consciente ou implicitamente - por deixar cair uma expressão que, em boa verdade, tem provocado reações negativas e até alguma perplexidade por parte de quem entende que a missão da Igreja é única e permanente.
A longa discussão com os mais de 260 participantes, durante quase duas semanas, pareceu algo errática, saltando entre as várias dimensões da ação eclesial e as diversas realidades em que as comunidades católicas, de implantação reconhecidamente mundial, se encontram. A realidade quotidiana e a sensibilidade de cada bispo levaram, muitas vezes, a que se apresentasse aos outros uma visão particular dos problemas, sem a preocupação do conjunto.
50 anos depois do início do Concílio Vaticano II, o encontro de tantos representantes dos episcopados católicos – um número recorde - para debater um tema tão vasto e aberto a tantas abordagens era visto com grande esperança e é de desejar, apesar das tensões e das preocupações que dominaram parte dos trabalhos, que o resultado desta assembleia sinodal esteja à altura das expectativas.
A grande fratura que surge nesta matéria é a da ‘novidade’: a Igreja Católica tem de enfrentar desafios novos, com a sua mensagem de séculos, particularmente numa Europa envelhecida e cada vez mais cética, desconfiada de si, do futuro e, naturalmente, de Deus.
Percebe-se, compreensivelmente, alguma tendência para responder a problemas novos com as fórmulas de sempre. Além disso, dificuldades e fracassos são atribuídos, em muitos casos, à falta de capacidade ou boa vontade dos recetores da mensagem e não tanto de quem a proclama.
Há sinais positivos surgidos na reflexão que não se vão esgotar na mensagem final e nas propostas que o Sínodo vai apresentar ao Papa, mas é com natural atenção que estes documentos finais vão ser seguidos para se saber, afinal, se existe ou não uma ‘nova’ evangelização ou se aquilo que se diz desta se aplica à tarefa evangelizadora de toda a Igreja, em todos os tempos.
Octávio Carmo
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-3513062268857850362012-10-17T10:47:00.000+01:002012-10-22T10:48:17.386+01:00«365 dias, 365 obras»: comunicar com os Bens Culturais da IgrejaMemórias vivas e comunicantes do sagrado, compete-nos, com efeito, desenvolver e incentivar as múltiplas valências deste legado <span class="fullpost">
Prosseguindo o esforço de valorização do património eclesial português, o Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja apresenta, no próximo dia 18 de outubro, o projeto multimédia “App 365 dias, 365 obras”.
Destacando a dimensão pastoral e cultural da obra de arte religiosa, contextualizada num mais vasto programa de interpretação - para além da simples análise formal, como instrumento de apreciação estética - pretende fomentar uma consciência crítica de valorização e redescoberta do património religioso português. Sensibilizando os utilizadores para a sua riqueza e diversidade, visa deste modo uma mais ampla partilha, fruição e acesso aos Bens Culturais da Igreja.
Plataforma online disponível nas versões iPad, Android, Mac e PC, concretiza-se na apresentação de uma obra por cada dia do ano, em articulação com o calendário litúrgico que a integra. Com navegação em vistas anuais, mensais e diárias, oferece-se assim como uma nova proposta de comunicação patrimonial.
Memórias vivas e comunicantes do sagrado, compete-nos, com efeito, desenvolver e incentivar as múltiplas valências deste legado, promovendo a sua valorização ao serviço da missão que lhe está confiada, duplamente cultual e cultural.
Em suma, sem fazer de tudo isto uma nova “indústria cultural”, de consumo superficial e espiritualmente nula, termino evocando as palavras de João Paulo II, quando nos interpela a transmitirmos “o assombro religioso perante o fascínio da beleza e da sabedoria, que emana de tudo o que a história nos entregou”.
Sandra Costa Saldanha</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-52756426427045990082012-10-10T10:45:00.000+01:002012-10-22T10:46:24.318+01:00A forma do cristianismo em mudançaEm tantas situações, nesta diáspora cultural onde estamos semeados, a única palavra verosímil é a do testemunho de uma vida vivida com simplicidade e alegria no seguimento de Jesus.<span class="fullpost">
O teólogo Karl Rahner escreveu que “A Igreja tem sido conduzida pelo Senhor da história para uma nova época”. Não se trata só de baixas drásticas nos indicadores estatísticos quando se compara a atualidade com aquele que já foi o quadro da vivência da Fé. A questão é bem mais complexa. Talvez o que o nosso tempo descobre, mesmo entre convulsões e incertezas, seja um modo diferente de ser crente, traduzido de formas alternativas nas suas necessidades, buscas e pertenças. Não estamos perante o crepúsculo do cristianismo, como defendem aqueles que se apressam a chamar pós-cristãs às nossas sociedades. Quem não se apercebe que o radical lugar do cristianismo foi sempre a habitação da própria mudança não o colhe por dentro. Mas há eixos que se vão tornando suficientemente claros para que seja cada vez mais um dever os enunciarmos e contarmos com eles. Podem-se apontar três:
Primeiro, os cristãos regressam à condição de “pequeno rebanho”. Com a evaporação de um cristianismo que se transmitia geracionalmente como herança inquestionada, os cristãos voltam a sê-lo por decisão pessoal, uma decisão muitas vezes em contra-corrente, maturada de modo solitário em relação aos círculos mais imediatos de pertença. Já não é de modo previsível que nos tornamos cristãos. Isso acontece e acontecerá cada vez mais como uma opção e uma surpresa.
Depois, à medida que se assiste a um enfraquecimento da inscrição institucional das Igrejas no horizonte da sociedade redescobrimos o valor e as possibilidades de uma presença discreta no meio do mundo. Em tantas situações, nesta diáspora cultural onde estamos semeados, a única palavra verosímil é a do testemunho de uma vida vivida com simplicidade e alegria no seguimento de Jesus.
E, em terceiro lugar, esta grande mudança epocal mostra-nos que precisamos recuperar aquilo que Karl Rahner chama o “santo poder do coração”. Os cristãos são chamados a viver a amizade como um ministério. “Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,17). Há, de facto, uma revelação do cristianismo que só a prática da amizade é capaz de proporcionar. E nisto, o mundo, que pode até perder-se em equívocos sobre os cristãos, não se engana. Mesmo se for um único instante de contacto o que tivermos, tal basta para deixar transparecer uma amizade.
José Tolentino Mendonça
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-39173527063169775122012-10-03T10:44:00.000+01:002012-10-22T10:45:16.372+01:00Missionários digitaisNeste ciberespaço moram hoje milhões de destinatários do Evangelho; também eles com o direito a que lhes seja apresentado o Nome que está acima de todo o nome <span class="fullpost">
Recebi com alegria o anúncio do tema para o 47.º Dia Mundial das Comunicações Sociais: “Redes sociais: portais da verdade e da fé, novos espaços de evangelização”.
Escrevi “com alegria”, mas posso acrescentar que “sem surpresa”. De facto, vinham-se acumulando os sinais reveladores da crescente atenção da Igreja Católica ao mundo digital como nova terra de Missão. Basta pensar, por exemplo, na Mensagem para o 43.º Dia Mundial, quando Bento XVI pediu aos jovens que levem ao continente digital o testemunho da sua fé, introduzindo na cultura desse ambiente comunicativo e informativo os valores em que assenta a sua vida crente.
Subjacente a este interesse está a convicção de que a cultura mediática e digital “progressivamente se estrutura como o lugar da vida pública e da experiência social” (Instrumentum laboris para o próximo sínodo dos bispos, 59); e ainda que a sua influência pesa sobre a perceção que temos de nós mesmos, dos outros e do mundo.
Esta noção de que estamos mergulhados num outro caldo cultural e não confrontados com meras tecnologias, alterou atitudes: hoje, para a Igreja, a internet não é mais um mero meio de evangelização, mas um espaço a evangelizar, porque aí se exprime também a vida dos homens.
Neste ciberespaço moram hoje milhões de destinatários do Evangelho; também eles com o direito a que lhes seja apresentado o Nome que está acima de todo o nome, como resposta ao apelo de Bento XVI a uma renovada urgência na Missão, nascida de uma caridade que impele a evangelizar.
Precisamos, então, de missionários digitais. Não de meros conhecedores de tecnologias, mas de gente capaz de aí introduzir alma...
Volto ao Instrumentum laboris (62) para o próximo sínodo dos bispos... Mencionando as novas fronteiras do cenário comunicativo em que a evangelização acontece, o documento reconhece benefícios e riscos na internet; mas pede aos cristãos “a audácia de frequentar estes novos areópagos, aprendendo a dar uma valorização evangélica, encontrando os instrumentos e os métodos para tornar audível também nestes lugares hodiernos o património educativo e de sapiência conservado pela tradição cristã”.
Se a evangelização é uma prioridade à qual se deve adequar os estilos de vida, os planos pastorais e a organização diocesana, ao fazê-lo não se esqueçam as redes que precisam de ser humanizadas e vitalizadas...
João Aguiar</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-18085882836303773432012-09-25T10:58:00.000+01:002012-10-01T10:58:51.685+01:00No labirinto da crise«A Humanidade só pode crescer como um todo» e «esse todo não é apenas material, mas sobretudo espiritual e cultural» <span class="fullpost">
Procuram-se soluções. Desejam-se certezas sobre o amanhã. É grande a vontade de ter respostas, de saber, sem rodeios nem enganos, o que fazer e com o que contar.
Poucas vezes, porém, se murmuram interrogações sobre o sentido das coisas e da vida, sobre o ser pessoa neste tempo, as razões para ser mais e melhor todos os dias.
Os problemas sociais e económicos, individuais e da sociedade, parecem fazer esquecer o essencial da existência, aquilo que não se contabiliza em folhas de cálculo ou em listagens de estatísticas.
Sem esquecer a necessária luta pela justiça social e pela conquista da dignidade de vida para todas as pessoas, é preciso primeiro clarificar as questões que derivam da procura do sentido da vida, do valor dado a cada momento e das motivações imediatas e últimas. Só posteriormente se podem encontrar soluções para os problemas de âmbito económico e social.
José Mattoso, na recolha de artigos e conferências em torno do tema da sabedoria, publicados no livro “Levantar o Céu – Os labirintos da Sabedoria”, responde a estes dois grupos de questões. Este volume, fundamentado na investigação da História e na profundidade espiritual do autor, oferece um quadro interpretativo do momento presente, informa sobre as opções civilizacionais que lhe deram origem e aponta para as necessárias mudanças de rumo. Nestas páginas, sim, encontram-se as soluções para os problemas do amanhã, aqueles que todas as pessoas anseiam ver resolvidos. Mas com surpresas.
“A Humanidade só pode crescer como um todo” e “esse todo não é apenas material, mas sobretudo espiritual e cultural”, sustenta o autor.
Para “encontrar a saída do labirinto em que a vida nos coloca”, José Mattoso sugere a procura do “desenvolvimento espiritual, cultural e solidário, orientado para o progresso integral do homem e não apenas para o benefício de uma minoria egoísta, irresponsável e predadora”.
Como o conseguir? – a resposta é do historiador: “Creio que a perspetiva meramente ética, cívica e laica acerca do valor do princípio da cidadania como fator de desenvolvimento humano é ineficaz. Encerra os cidadãos num plano limitado e material, e este torna-se inoperante para neutralizar a tendência egoísta e gananciosa do homem. Se queremos manter a esperança num futuro melhor para a Humanidade temos de recuperar a noção do sagrado”.
A celebração do Ano da Fé pode oferecer uma ocasião de excelência para essa recuperação da “noção do sagrado” na procura de um futuro melhor para a Humanidade.
Paulo Rocha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-4097022977677017242012-09-18T10:57:00.000+01:002012-10-01T10:57:52.499+01:00Cultura da oportunidadeEm contexto ainda excessivamente marcado por poderes instituídos, direitos adquiridos, o favorecimento ultrapassa a idoneidade <span class="fullpost">
Não seria problemático, nos dias que correm, eleger um tema para reflexão, insistir nas dificuldades atuais ou nas suas imensas nuances. Sublinho apenas uma: a negação da oportunidade. Não de uma hipotética nova oportunidade, que os tempos inibem, mas daquelas que vão surgindo.
Silenciosa forma de precaridade, com custos danosos para pessoas e instituições, depressa anulam eventuais ganhos. Causadora de indivíduos suscetíveis, sem alento e esperança, não atinge apenas o estereótipo do jovem recém-formado. Vivemos o cúmulo do problema, englobando gerações de 20, 30, 40 e 50 anos…
Mesmo em tempo de raras alternativas, pesa muito a arbitrariedade de ser preterido, a negação da esperança num sistema imparcial. Em contexto ainda excessivamente marcado por poderes instituídos, direitos adquiridos, o favorecimento ultrapassa a idoneidade. Opta-se pela força da influência, pela segurança do conhecido, do amigo necessitado, evitando-se o risco da novidade. Porque escasseiam os concursos verdadeiramente públicos, as avaliações curriculares e o reconhecimento do mérito? E a ocasião está lá, mas falha essa cultura da oportunidade, da isenção e da aposta na competência.
É, antes do mais, um exercício de consciência ética, de equidade e decência. E bem pensado, quanta responsabilidade temos assistindo tácitos a pequenas concessões destas? Um exíguo combate ao alcance de muitos, de todos quantos podem promover uma qualquer medida concreta. Haja para isso a integridade de ser coerente na ação.
Sandra Costa Saldanha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-64223533741604657352012-09-11T10:56:00.000+01:002012-10-01T10:59:22.261+01:00Por uma nova comunicaçãoA nossa interioridade é colonizada e tornamo-nos cada vez mais dependentes dos flashes de ideias, imagens e ruídos que se sucedem em nosso redor. <span class="fullpost">
A comunicação massificada e omnipresente, como a que atravessa grande parte dos nossos quotidianos, sacrifica duas vítimas em que nem sempre pensamos: a palavra e a interioridade. A palavra é tão vital à expressão de nós próprios, é tão indispensável à relação, que a sua aprendizagem se prolonga, na nossa formação, por longos anos. Ela confunde-se com a descoberta de nós próprios. Por ela debruçamo-nos com confiança sobre o vasto mundo. A arte de falar torna-se, por isso, com toda a justiça, uma arte de ser.
Mas nós vivemos submersos num mundo de palavras manipuladas, esvaziadas de verdadeiro sentido, desresponsabilizadas. Num mundo de palavras exaustas, exiladas de si mesmas, inflacionadas. O próprio uso que se faz da palavra a desmente e deforma, tornando-a contraditória, ambígua e, por fim, irrelevante. As nossas sociedades precisam urgentemente de reencontrar uma ética para a palavra. Não podemos aceitar que o pacto da palavra com a verdade e com o sentido seja quebrado, sem nenhum tipo de consequências. Na miséria da palavra o que está em jogo é um empobrecimento da experiência humana.
O homo comunicans que somos, inscritos nesta cultura de hipercomunicação, vê também a sua interioridade ameaçada. A realidade, a do mundo e a nossa, vai sendo reduzida a uma falsa noção de transparência, onde tudo é dito e mostrado, frequentemente em tempo real. Quando nos ensurdecem tantas vozes e fantasmas, perdemos a capacidade de ouvir a voz interior e de sermos nós próprios. A nossa interioridade é colonizada e tornamo-nos cada vez mais dependentes dos flashes de ideias, imagens e ruídos que se sucedem em nosso redor. Precisamos de contrariar este movimento de demissão, reencontrando uma arte de pensar; recuperando uma atenção mais crítica em relação ao que nos é servido a toda a hora; construindo espaços de distanciamento favoráveis ao silêncio e à reflexão; investindo numa escuta que não aceita ficar comodamente à superfície, mas assume, como tarefa, a interrogação humilde pela verdade.
José Tolentino Mendonça
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-62547408593668877672012-09-04T10:55:00.000+01:002012-10-01T10:55:46.691+01:00Onde o tempo é outroEstes idosos - mas é de idosos a aldeia - estão sem agenda nem calendário, como se lhe tivessem alterado os dias <span class="fullpost">
As férias trouxeram-me à serra. É certo que, por razões familiares, por aqui passo com muita frequência; mas as férias permitiram duas semanas de presença, traduzidas em conversas mais longas e observação mais paciente.
Vi o óbvio: uma população envelhecida, passeando achaques e olhares tristes. Muitos, procurando na memória nomes e acontecimentos para alimentar diálogos.
Num passeio a meio da manhã, o cenário é o mesmo todos os dias: do interior das casas escorre o som das rádios ou televisões. O volume demonstra as dificuldades de audição dos moradores. Alguns assomam ao patamar das escadas, para ver se passa vizinho com quem possam trocar frases doridas.
Fui, nestes dias, ouvinte disponível; e confesso que, de tanto ouvir, sinto uma neblina incómoda a perturbar-me o olhar. É que estas pessoas sentem-se afastadas de tudo e esquecidas por quem as devia lembrar...Mas confessam-no com a resignação de quem parece ter abdicado de todos os direitos. “Que é que a gente há de fazer? Eles é que mandam!”
No pronome estão todos os que governam; do mais próximo ao mais distante e decisivo escalão do poder. Mal lhes sabem os nomes e não percebem que mal lhes fizeram para “não ligarem nada à gente”, nem explicarem porque “levam tudo cada vez para mais longe”.
Uma senhora, que quase andou comigo ao colo, faz a declaração mais agressiva: “O diabo carregue essa gente, que só nos deixa o cemitério!...”
Quem me lê pode estar tentado a afirmar que carrego nas tintas. Olhem que não; olhem que não. Pelo contrário, respeito o pudor da maioria que faz do encolher de ombros a forma mais visível de manifestar o que lhe vai na alma.
Estes idosos - mas é de idosos a aldeia - estão sem agenda nem calendário, como se lhe tivessem alterado os dias. “Até o domingo passou para o sábado à tarde”, comenta o ti António, que não vê modo de se habituar ao novo horário das missas que o pároco teve de adotar, para servir diversas paróquias.
Quando converso com ele, a televisão da cozinha mostra o “Verão total” em Lousada e um carpinteiro artesão explica trabalhos expostos sobre uma mesa. “Está a ver aquilo ali? Vai uma aposta em como mais de metade dessa malta que para aí anda a mandar na gente não acertava dois nomes seguidos de uma alfaia agrícola? E nós é que somos os parolos!”
Vou regressar a Lisboa, com a neblina que acima confessei. Com a certeza de que, daqui a uns meses, nada terá mudado para melhor. Mas também com uma outra certeza: a resistência e o orgulho desta gente ofereceu-nos um país que era bom preservar...
Por isso lhes dedico este texto, escrito encostado a um bloco de granito, num pedaço de terra onde o tempo é outro.
João Aguiar Campos
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-82290322761681529342012-09-04T10:54:00.000+01:002012-10-01T10:54:39.343+01:00Um projeto que nasceAinda em tempo de férias, novos “Caminhos da Fé” se delineiam. <span class="fullpost">
Proposta integrada de fruição do património cultural religioso, articula elementos singulares, de expressiva preponderância devocional, cultural e artística, concebidos como instrumentos de Fé e memórias vivas das comunidades.
Projeto assente na promoção de destinos de motivação devocional, centrado nas diversas dinâmicas e vivências religiosas, pretende converter itinerários turísticos em experiências únicas e contextualizadas, espiritualmente mais profundas, muito além da simples dimensão formal da obra de arte religiosa, como mero instrumento de apreciação estética.
Como já noutro local se disse, compete-nos potenciar a sua fruição legível, oferecer meios de acesso à sublimidade das formas, a crentes e não crentes, comunicantes de uma experimentação única.
Sandra Costa Saldanha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-34157769441784030622012-08-07T10:52:00.000+01:002012-10-01T10:52:58.926+01:00Politicamente incorrectoHá milhares e milhares de pessoas a quem sobram razões de queixa (...) cuja solução não se encontra apenas nas respostas do mercado ou da política <span class="fullpost">
Periodicamente alguém se encarrega de nos dar a conhecer o ânimo dos consumidores. Infelizmente, os tempos têm sido parcos em boas notícias: mesmo que uma ou outra lança de sol apareça, a verdade é que há um nevoeiro que não se dissipa, sendo muitos os que acreditam e proclamam que “o pior ainda está para vir”.
Há, de facto, milhares e milhares de pessoas a quem sobram razões de queixa, sendo obrigatório ouvir e ampliar a sua voz; responder aos seus apelos e minimizar os seus dramas, cuja solução não se encontra apenas nas respostas do mercado ou da política.
Mas ao lado destes – e vou ser politicamente incorreto -- não é despiciendo o número dos que hoje acham ser de bom tom lamuriar-se, mesmo que, no seu caso pessoal, esteja apenas em causa uma qualquer guloseima e não a refeição principal… Convenhamos, porém, que uma coisa é chorar por ter fome e outra, muito diferente, apenas não gostar do que se tem no prato! Estes lamentam-se para as tvs, rádios ou jornais nas estações de serviço onde atestam para um fim de semana extramuros, ou na fila dos gelados da moda, ou enquanto emborcam bebidas sociais em sítios in. Ora, se respeito quem vive em crise, custa-me aceitar que alguém viva da crise -- seja fazendo vítimas, seja fazendo-se de vítima…
Na rua que desço, ao fim do dia, para a fila do transporte público, oiço pedidos de pessoas claramente necessitadas e cuja situação não consente cegueira ou surdez; ao lado de outras que optaram por um estilo de vida que, aparentemente, pretendem subsidiado, ao menos pelo cidadão passante…
Confesso a minha dificuldade em lidar com estes últimos casos. Sobretudo quando a abordagem é insistentemente agressiva e faz com que, eventualmente, venha a pagar o justo pelo pecador.
Sei que “quando damos aos pobres as coisas indispensáveis (…) apenas lhes devolvemos o que é deles”. Mas isto nada tem a ver com uma generosidade que não educa nem exige, mais parecendo consequência de uma espécie de complexo de culpa. E para esse peditório não dou….
João Aguiar Campos</span>
BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-25213717632867010112012-07-31T15:24:00.001+01:002012-07-31T15:24:11.031+01:00Tempo que passa(...) Valorizar pequenas coisas, que não são do mercado nem por lá se encontram, descobrindo o valor da entrega, da gratuidade, da solidariedade, (...) da espiritualidade <span class="fullpost">
Há uma sede quase insaciável de quantificação, na sociedade de hoje. As realidades diárias são reduzidas a números, as pessoas a estatísticas, tudo é contabilizado para um consumo imediato (e muitas vezes mediático).
Nesta tirania dos números, continuamos a viver um momento de viragem, em que ainda não se vislumbra com precisão o novo rumo, um destino seguro, um sentido de futuro para o presente marcado por tantas dificuldades, em que muitas questões se levantam sem que surjam as respostas mais adequadas.
O lazer, o tempo livre, o encontro com outras pessoas e outros lugares surgem assim como um desafio para sair da quotidianidade, valorizando o que é único, pessoal, irrepetível e não cabe numa fotografia, em duas linhas, em 30 segundos.
A atual crise económica fez com que muitas pessoas colocassem as suas prioridades em perspetiva e aprendessem a valorizar estas pequenas coisas, que não são do mercado nem por lá se encontram, descobrindo o valor da entrega, da gratuidade, da solidariedade e, nalguns casos, da espiritualidade.
Descobrir que dentro de nós há coisas que não se compram nem se vendem, mas reclamam atenção, tempo e dedicação é um caminho de realização pessoal que pode contagiar a comunidade e levá-la a potenciar o que de melhor tem em si, através da soma das qualidades de cada um.
As próximas semanas, que para muitos são de descanso, podem ser um tempo de inspiração para reformular projetos e expectativas, mostrar reconhecimento a quem nos rodeia, longe da agitação em que os dias mergulham, dos tempos que se agitam.
Para muitos, também, será uma oportunidade para reencontrar sentidos e rumos, na relação com os outros e com Deus, de vislumbrar os sonhos do que verdadeiramente se gostaria de viver, em busca de respostas mais profundas, que permanecem para lá do tempo que passa.
Octávio Carmo
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-81237784059578560842012-07-24T12:57:00.001+01:002012-07-24T12:57:37.030+01:00Saltar de nívelÉ fundamental assumir discursos inclusivos, que não se fixam no «meu grupo”, mas no nosso caminho, na opção comum<span class="fullpost">
Serve de rótulo em muitas ocasiões, mas a certeza tantas vezes dita de que a juventude está arredada de opções de fundo, de propostas formativas ou espirituais e, sobretudo, de conselhos da religião não corresponderá à verdade. Cresce mesmo a errada ideia que distancia o perfil juvenil da dimensão institucional, determinante para a construção social em qualquer tempo.
À resistente – e sempre louvável – militância sénior que se evidencia em qualquer grémio é necessário acrescentar o crescente pulsar juvenil, em ambientes rurais como os urbanos, quando se trata de revitalizar associações, grupos e tradições. É junto das camadas mais novas que heranças culturais e populares encontram novos fôlegos, sempre e bem sustentados pela maturidade de outros, mais velhos. E este não será um fenómeno exclusivo destes tempos. Talvez o seja de todos os tempos, repetidamente desconhecido porque escondido no ciclo de cada geração.
A relação dos jovens com a Igreja Católica acontece nesta afinidade, em sintonia com a tensão gerada por sentenças genericamente formuladas, reveladoras de desconhecimentos, e o compromisso real, próximo e concreto que muitos jovens e numerosos grupos levam por diante, independentemente do que deles se diz.
Não raros projetos mostram a grande proximidade que existe entre as novas gerações e a Igreja Católica. Também a relevância de instituições e iniciativas eclesiais no itinerário juvenil, emergindo com grande diversidade em pessoas e grupos e de acordo com momentos formativos, académicos, profissionais ou familiares. Mas sempre presente. E é necessário notar essa presença, sobretudo entre pares.
A mobilização juvenil em torno do voluntariado missionário, a persistência em valorizar a música cristã que se apresenta em cada Festival Jota, ou a reunião de milhares de adolescentes e jovens de todo o país em acampamento nacional em torno da metodologia escutista são exemplos destes dias. E sucedem-se a muitos outros projetos que um ano escolar e pastoral incluiu, em iniciativas de âmbito nacional ou diocesano, de secretariados ou movimentos juvenis.
Entre todos, é fundamental assumir discursos inclusivos, que não se fixam no “meu grupo”, mas no nosso caminho, na opção comum. E fazer de todos os eventos, de todas as propostas uma oportunidade para saltar de nível na configuração de cada pessoa com o programa de vida de todos os tempos: o Evangelho.
Paulo Rocha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-5538507630338010552012-07-17T13:12:00.001+01:002012-07-17T13:12:14.464+01:00A urgência de comunicar: oportunidade ou oportunismo?Comunicar pode bem passar pelo recurso a meios escassamente aproveitados: a linguagem da arte, a peculiaridade do património, a potenciação do turismo <span class="fullpost">
Com um discurso frequentemente hermético, carregado de conceitos próprios, nem sempre acessíveis, neste processo de adaptação a uma sociedade cada vez mais secularizada, a Igreja Católica tem promovido, frontalmente, um debate saudável em torno das suas próprias dificuldades de comunicação. Como assertivamente sublinha um recente documento das Comissões de Comunicação das Conferências Episcopais de Portugal e Espanha: “toda a ação pastoral da Igreja tem de ser mais comunicativa”. Relativismos à parte, há pois que enfrentar o desafio, simplificar a linguagem, descodificar a mensagem, num compromisso de cedência, que, não pondo em causa a sua identidade, seja verdadeiramente ecuménico.
Ora, a pretexto da temática central deste semanário Ecclesia, dedicada ao Turismo, é pois oportuno evocar a relevância de outros meios de comunicação. Sobretudo em contexto de nova evangelização, e de uma tão reclamada criatividade pastoral, comunicar pode bem passar pelo recurso a meios escassamente aproveitados: a linguagem da arte, a peculiaridade do património, a potenciação do turismo.
Modos eficazes de uma comunicação legível, forçoso será também refletir quanto ao teor do que efetivamente se transmite. Salvaguardada a prioridade da sua missão evangelizadora, não poderão, contudo, perpetuar-se de uma forma meramente instrumental, como meios para atingir um fim. Fechados em objetivos exclusivamente confessionais, arriscando um sectarismo pouco saudável, de fenómeno imposto, fomentariam, sem dúvida, um maior distanciamento da sociedade.
Há, pois, toda uma vasta dimensão a explorar no que à comunicação patrimonial concerne, verdadeiramente Universal e congregadora, onde a Igreja poderá, com legitimidade, promover uma genuína presença pública da Fé.
Sandra Costa Saldanha
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-66124664323866266772012-07-11T13:10:00.000+01:002012-07-17T13:10:47.507+01:00Carta a um amigo sobre a vida espiritualA espiritualidade não é uma busca epidérmica e apressada de satisfação. Na maior parte do percurso a pergunta que vale não é “o que me sacia?”, mas “qual é a minha sede?” <span class="fullpost">
Depois percebemos que a vida espiritual não pode ser uma coisa à parte, e que saudavelmente coincide com a única vida que temos. O que há em nós de realização e de desejo, de tensão irresolúvel e de dom; o que nos habita da forma mais habitual; o que nos afunda mais na terra, no corpo e no tempo: é aí que ouvimos (ou podemos ouvir) os passos de Deus.
Falar da vida espiritual é sempre sondar as zonas mais profundas (e por isso também mais reais, mais imperfeitas, mais inacabadas) do nosso coração. A espiritualidade não é uma busca epidérmica e apressada de satisfação. Na maior parte do percurso a pergunta que vale não é “o que me sacia?”, mas “qual é a minha sede?”. Gosto da maneira como os autores clássicos da vida espiritual falam dela como de uma luta. O próprio Jesus lembra que não veio trazer a paz das aparências, mas a espada que penetra as camadas mais íntimas. A vida espiritual é isso: por vezes uma luta, por vezes uma luminosa dança.
Podemos fazer muitos atos ligados ao espiritual ou ao devocional e não estar a construir uma verdadeira experiência de vida espiritual. De facto, esta só cresce quando no centro está uma relação. Não basta crer, nem pertencer. É necessário mergulhar, habitar (ou melhor, saber-se habitado). E tudo o resto: descobrir-se buscado, querido, bem-amado. A vida espiritual não é da ordem do fazer, mas do ser.
Diz-se que estes duros tempos de crise económica, em que todos os dias vemos tombar o modelo que identificava a felicidade com o poder de compra (ou com a sua ilusão), constituem uma oportunidade para a redescoberta do espiritual. Pode bem ser. Mas no lugar de um ídolo, não podemos colocar outro. A vida espiritual não é um oculta-vazios ou um alívio emocional para sociedades à beira de um ataque de nervos. É uma aventura maior, que nos radica na verdade nua do homem e na verdade de Deus. Partamos daí.
José Tolentino Mendonça
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1. O título destas linhas não introduz a conhecida canção de Manuel Freire. De facto, aqueles que pretendo mencionar não vão de coração triste e saco às costas, nem levam o sonho de regressar ricos; ao menos de bens materiais...
Os voluntários missionários, que nestas linhas quero homenagear - é essa a minha intenção - partem pressionados pelo desejo desprendido de, noutras aragens e entre outros povos, oferecerem tempos de entusiasmo, fé e saber.
Não os conduz o romantismo, a fuga de qualquer circunstância menos positiva, ou o gosto pela aventura. Urge-os o amor e a profunda exigência da vida de Deus em cada um. Sem esta causa, não imagino, aliás, como poderiam pôr à prova afetos ou adiar justos desejos de realização profissional.
Sendo verdade que “o homem contemporâneo acredita mais nas testemunhas que nos mestres”, os voluntários missionários cumprem, de forma excelente, o que, nas palavras de João Paulo II aos membros da Federação dos organismos cristãos do Serviço Internacional de Voluntariado, cabe a cada crente: “tornar de certa forma experimentável, através da sua dedicação aos irmãos, a ternura Providencial do Pai celeste”. Na mesma linha aponta Bento XVI, na Carta Apostólica para o Ano da Fé: “Aquilo de que o mundo hoje precisa de maneira especial é do testemunho credível dos que, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos ao desejo de Deus e da verdadeira vida; essa que não tem fim”.
2. Escrevi que o voluntário missionário não leva, quando parte, outro desejo que não seja o de servir. Mas os testemunhos de quem viveu tal experiência não escondem, também, a recompensa de “cem vezes mais”, prometida no Evangelho.
Socorro-me do que escreveu Catarina, em agosto de 2011, no final da sua missão em Timor: “cheguei de coração cheio para dar. Parto de coração cheio do que recebi. Cheguei a pensar que mudava o mundo. Parto a saber que o mundo me mudou a mim. Cheguei a pensar fazer. Parto a saber que o que mais importa é ser. Cheguei eu. Parto eu mais rica”. (http://www.estemeucoracao.blogspot.com).
3. Se se aprofundar a dimensão vocacional da vida cristã, muitas outras vidas se entregarão.
Sendo verdade que as estatísticas dos que partem revelam generosidades insuspeitadas, o número dos que não receberam ainda o primeiro anúncio, ou a desertificação crente exigem muito mais.
Eis um desafio colocado a todas as comunidades ou paróquias: assumir a exigência da dimensão missionária, constitutiva de toda a Igreja. De modo que todos pratiquemos a convicção de que, afinal, ser crente é viver em constante estado de missão.
João Aguiar Campos
</span>BlogsEcclesiahttp://www.blogger.com/profile/15974921304959888756noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4715238673807885605.post-69313852987196136622012-06-26T13:01:00.000+01:002012-07-17T13:02:11.587+01:00Falar do que se sabeO atual estado de coisas leva muita gente a escrever e a falar sobre o que não sabe <span class="fullpost">
Um mundo em constante mutação, que gira a elevadas rotações, tem vindo a fazer cada vez mais do conteúdo informativo uma forma de entretenimento passageiro, para ir preenchendo o tempo nos intervalos das coisas verdadeiramente importantes que cada um tem para fazer nos seus dias. Muitos querem saber mas, segundos depois, poucos são os que se lembram.
As próprias opções editoriais são condicionadas por este novo mundo, em que o jornalista desiste do seu papel de mediador e oferece às ‘audiências’ a decisão sobre o que deve publicar, sobre os temas que deve investigar e sobre as matérias a privilegiar.
A pressão, reconheça-se, é enorme: há uma obrigação sistemática para não se deixar passar em claro nada do que é publicado e oferecido às pessoas, sob pena de, supostamente, se perderem leitores, ouvintes, espetadores ou, como muitos os veem, clientes. Os resultados finais são cada vez mais parecidos, retirando espaço às marcas que tornavam únicos – identificáveis, diria – os diferentes meios de comunicação.
Neste quadro, vemos que a opção por não publicar notícias exige tanta ou mais coragem do que a decisão de as publicar – a reação de proprietários, diretores, editores e mesmo leitores é habitualmente rápida e impiedosa.
A verdade, contudo, é que o atual estado de coisas leva muita gente a escrever e a falar sobre o que não sabe. Publica-se, sem qualquer investigação própria, o que o Vaticano diz e faz, por exemplo, com uma certeza que em momento algum é sequer questionada.
Não sei quanto tempo mais vai durar a saga do ‘Vatileaks’, mas espero que a novela acabe depressa. Admito, por outro lado, que a resposta a esta situação por parte dos responsáveis da Igreja Católica nem sempre seja a mais adequada, com uma ‘diabolização’ do jornalismo que abre guerras e alimenta preconceitos, tornando mais difícil a missão de quem procura traçar um quadro nítido e honesto das situações. Mesmo quando se assumem posições em defesa do Papa e dos seus colaboradores, é preciso saber do que se fala.
Octávio Carmo
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Conscientes da crescente importância do património religioso, como um dos recursos turísticos mais relevantes em todo o mundo, importantes sinais têm sido dados pela Igreja em Portugal, que reforça agora a sua intervenção nesta área, com a revitalização da Obra Nacional da Pastoral do Turismo.
Assente num vastíssimo universo de atuação, de expressiva preponderância devocional e patrimonial, importa, pois, saber valorizar e promover tão precioso legado, à luz de um efetivo serviço pastoral e contributo atuante da própria missão da Igreja, muito além da sua simples fruição cultural.
Sem descurar o rigor de uma análise fundamentada, a cargo de especialistas e dirigida à compreensão profunda das obras, é essencial recuperar uma valência de fruição integrada e interpretação legível. Enfim, promover cada manifestação, concebida como instrumento de Fé e memória viva das comunidades, na sua autenticidade e significado original.
Evidenciando a experiência do sagrado, a inspiração e a mensagem intrínseca em cada expressão ou vivência religiosa, em cada monumento ou obra de arte, há pois que potenciar recursos, saber partilhá-los e oferecê-los a todos como momentos únicos e espiritualmente mais profundos, muito além da simples dimensão formal da obra de arte, como mero instrumento de apreciação estética. Creio ser este, sem dúvida, um dos contributos mais aguardados.
Sandra Costa Saldanha
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