29/07/11

Prioridade aos jovens?

Com energia capaz de permanecer em muitos jovens que passam pelas JMJ, estes encontros mundiais enfrentam o desafio de conquistar semelhantes consequências para as estruturas da Pastoral Juvenil

A juventude é, com regularidade, apontada como a prioridade de lideranças políticas, tanto de quem governa como de quem se opõe, no Parlamento ou autarquias. E são os jovens que frequentemente oferecem argumentos e minutos a prolongados discursos. No entanto, as novas gerações pouco se mobilizam em torno dessa retórica, mais voltada para o imediato do que para a construção de projetos de vida pessoais e coletivos.

Mas há acontecimentos, globais ou de vizinhança, aos quais os jovens acorrem voluntária e massivamente. Os encontros da juventude com o Papa são disso o melhor exemplo.

Desde 1985, cada Jornada Mundial da Juventude (JMJ) supera expectativas pela afluência de jovens de todo o mundo, a participação serena, a tipologia de iniciativas propostas para tantas pessoas e as mensagens que desses encontros emergem. Nomeadamente a JMJ de Roma, no ano 2000, com a participação de mais de 2 milhões de jovens a suscitarem interrogações noutras tantas pessoas sobre as razões que os mobilizavam em torno de Cristo. Ou o encontro de Manila, onde mais de 4 milhões aclamavam o Papa, Vigário de Cristo.

A história das JMJ evidencia um claro sinal “mais” a uma iniciativa lançada pelo Papa João Paulo II. E revela-se como metodologia capaz de dialogar com os jovens que nela participam, passando mensagens que atingem o interior de cada um, provocando marcas e transformações no percurso de vida dos que se aventuram a uns dias de encontro com a juventude de outro lado qualquer do globo. Também naqueles que seguem, mesmo à distância, esse mediático evento.

Em cada encontro, os jovens são conquistados por imagens, cenários, mensagens, slogans e desafios. Quase todos propostos pelo Papa, na justa medida de cada ouvinte e das interrogações e expectativas transportadas pela juventude de todo o mundo.

Com energia capaz de permanecer em muitos jovens que passam pelas JMJ, estes encontros mundiais enfrentam o desafio de conquistar semelhantes consequências para as estruturas da Pastoral Juvenil. De facto, são precisos acontecimentos que ofereçam a este setor da pastoral da Igreja uma alavanca de mudança positiva, de catalisação de recursos e vontades que permitam uma atuação estável e planeada junto de uma faixa etária caracterizada pela mobilidade frequente.

Estratégias e escolhas que ofereçam à juventude uma efetiva prioridade.

Paulo Rocha


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20/07/11

Conservar Património: um tema que tarda

A discussão tarda, sem horizontes, há demasiado tempo, um tempo que, efectivamente, o património não tem

As diversas problemáticas inerentes à prática da Conservação e Restauro de Bens Culturais da Igreja em Portugal reclamam, de longa data, um debate objetivo, atento à idoneidade dos procedimentos, à identificação das intervenções e à renovação dos meios de atuação Com constrangimentos que ultrapassam as sempre evocadas dificuldades financeiras, muitos dos obstáculos entroncam, sobremaneira, numa autonomia local especialmente nociva, de entendimento paroquial, alheio a uma necessária visão nacional.

Contexto ainda marcado pelo desconhecimento e incúria, onde o amadorismo, quantas vezes gerado em atos de genuíno voluntarismo, se sobrepõe à qualidade, muito do que se faz, faz-se, efetivamente, com o melhor dos desígnios. Universo em que os párocos são continuamente abordados por todo o tipo de “profissionais”, pese embora a existência de orientações concretas (desde a legislação do Estado Português ao Direito Canónico, passando pelos diversos decretos e regulamentos diocesanos), estas são frequentemente descuradas.

Panorama de aparente inoperância, agravada ainda por uma frágil organização institucional nesta matéria, reclama, porventura, uma maior intervenção episcopal, mas sobretudo uma ação mais escrupulosa e efetiva pelos serviços vocacionados, tanto ao nível do acompanhamento, como na aplicação das regras.

Realidade dominante, é também verdade que não é a única, e que os casos de êxito se têm vindo a destacar, acautelando atuações consentâneas, exemplarmente perscrutadas em dioceses como as de Beja, Santarém ou Viseu, e eficazmente aplicadas, através de medidas mais consequentes, como a obrigatoriedade de acompanhamento e até mesmo o sancionamento, implementadas na Arquidiocese de Braga.

Aspirando a uma dinâmica concertada, o Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja assume o tema como estruturante, promovendo, a 21 de julho, a primeira reunião do Grupo de Trabalho para a Área da Conservação e Restauro, recentemente constituído e aprovado pela Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

O tema é complexo e a discussão tarda, sem horizontes, há demasiado tempo, um tempo que, efetivamente, o património não tem.

Sandra Costa Saldanha




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14/07/11

Oração para o tempo de férias

Senhor, seja este o tempo
de nos relançarmos em aliança mais pura com o real
convictos daquilo que a hospitalidade
paciente e fraterna do mundo
em nós revela


Que saibamos apreciar a imediatez flagrante em que a vida se dá,
mas também as suas camadas profundas, escondidas, quase geológicas.
Que no instante e na duração saibamos escutar,
hoje e sempre,
o vivo, o desperto, o fremente
e o seu esperançoso trabalho.


Recebe, de nós,
a aurora e o verde azulado dos bosques.
Recebe o silêncio intacto dos espaços.
Recebe a música oceânica do vento.
Mas recebe igualmente a marcha desencontrada da história,
o desenho inacabado da nossa conversa terrena,
esta espécie de parto que,
entre dor e alegria,
nos une.


Sejam os nossos quotidianos gestos
mergulhados na vivacidade da troca,
abertos ao que de todos os pontos
da humanidade e do mundo converge,
impelido pelo teu Espírito.


Que a frágil chama de amor hoje acesa
Ilumine tudo por dentro:
desde o coração da menor partícula
à vastidão das leis mais universais.
E tão naturalmente invada
cada elemento, cada mola, cada liame,
florescendo e amadurecendo
toda a vida que em nós vai germinar.

José Tolentino Mendonça


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06/07/11

As arrojadas escolhas de Deus

Celebrar 25, 30, 50 anos de casamento é bonito. Mas não é menos bonito celebrar a consagração sacerdotal. É reavivar um conjunto de etapas do amor nas suas diversas fases

Celebrar 25, 30, 50 anos de casamento é bonito. Mas não é menos bonito celebrar a consagração sacerdotal. É reavivar um conjunto de etapas do amor nas suas diversas fases. É ver a vida distante e próxima nas suas horas sublimes e nas suas rotinas aparentemente sombrias ou insignificantes. Mesmo que não seja uma comemoração arredondada, há um olhar novo sobre o tempo, os percursos, as opções, os erros, as fidelidades, a constância, os acertos de trajetória dentro dum caminho resoluto de viagem. Há um exame de consciência sobre o que podia ter sido melhor e um profundo sentido de ação de graças por Deus ter sido bom e generoso no apoio a todas as horas, no amparo em todos os perigos – como dizia Paulo – nos mares, nos desertos, nos irmãos, nos momentos de fome, sede e desânimo.Com uma alegria indizível de se ter chegado a uma terra prometida que, mesmo sem correr leite e mel, oferece a tenda ao peregrino que sabe que não caminhou só, nem em vão e vai prosseguir viagem. Veio, duma forma ou outra, acompanhado. Também em comunidade que ajudou a fazer. E sabe que tudo aconteceu para além dum breve instinto, ou intuição, ou acaso, mas pela mão sábia de Deus que o trouxe como a uma criança, ternamente, ao colo num longo caminho que agora sente breve como um sopro.

A consagração do sacerdócio tem esta alegria dupla: a entrega incondicional a Deus e à comunidade, do todo, com todos os riscos e incertezas que isso envolveu, olhando para o lado e vendo companheiros que mudaram de rumo – também no caminho de Deus – e nos deixaram mais sós e questionados sobre o que é teimosia nossa ou simples graça de Deus. É combater o bom combate.

É bonito este tempo celebrativo onde vem ao de cima o gratuito dom de Deus. Que tanto fez – um dia se saberá melhor – com a fragilidade dum ser humano. Impor as mãos na cabeça de novos presbíteros é continuar essa aposta emocionante que os inúmeros caminhos de Deus oferecem. É d’Ele o chamamento. Foi Ele que escolheu. Dentro da nossa liberdade.

António Rego


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