28/03/12

Um novo Papa

Coração no coração, Bento XVI e o povo mexicano escreveram uma das páginas mais bonitas do atual pontificado

Há sempre tempo para recomeços e, prestes a completar 85 anos, Bento XVI viveu no México uma experiência que vai fazer dele um novo Papa. Não que se espere uma mudança radical de atitude no contacto com as pessoas ou uma reformulação do seu pensamento, mas será inevitável que, no seu interior, Joseph Ratzinger tenha descoberto uma nova perspetiva sobre o que significa o seu papel, como Papa, para milhões e milhões de pessoas, mesmo nas situações de maior dificuldade.

Os mexicanos não deixaram por mãos alheias os seus créditos de país católico e reuniram-se, em festa, ao longo das estradas, num acolhimento que deixou marcas no próprio Papa, sorridente e visivelmente emocionado.

Coração no coração, Bento XVI e o povo mexicano escreveram uma das páginas mais bonitas do atual pontificado, mostrando que o Papa discreto – que procura mais atenção para as suas palavras do que para si - consegue falar ao povo simples e ouvir as suas manifestações de carinho e admiração.

A visita começou e continuou com intervenções fortes, visando os que se dizem católicos e devotos da Virgem, mas se esquecem, no seu dia a dia, das exigências próprias dessa pertença à Igreja.

O Papa não escondeu as suas preocupações, num país em que traficantes de droga se afirmam como benfeitores católicos, afirmando com dureza que não basta o sentimentalismo, que a fé tem de ter consequências concretas na sociedade, erradicando a violência e combatendo a pobreza.

As expectativas eram muitas e, naturalmente, muitos se interrogariam sobre que soluções traria Bento XVI, que fórmula mágica apresentaria num país verdadeiramente dilacerado pela criminalidade organizada e pela banalização da morte.

Ao afirmar que, nesta situação, não bastam “estratégias humanas”, o Papa sublinhou a necessidade de ir mais fundo e mais alto, superar o cansaço, redescobrir a alegria e a esperança que a fé deve saber gerar.

Estas lições valem para a América Latina, que recebe a segunda visita de Bento XVI, mas de forma geral aplicam-se em todos os países em que os cristãos foram perdendo a sua força transformadora e vivem numa dicotomia entre fé privada e compromissos públicos que descarateriza a sua ação, tornando irreconhecível, nas suas decisões, qualquer visão católica do homem e do mundo.

Octávio Carmo

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