A Liberdade é para todos
Mais do que críticas ou ultimatos, o Papa levou a Cuba uma mensagem de esperança no futuro
Seis dias e meia volta ao mundo depois, Bento XVI está de regresso ao Vaticano após um périplo mexi/cubano que vai ficar registado como um dos momentos mais importantes do pontificado iniciado em 2007.
Seria injusto delimitar esta viagem do Papa à América Latina e, em particular, a sua passagem por solo cubano, à dimensão sociopolítica; também seria ingénuo ignorar que todas as viagens de Bento XVI, líder religioso de maior projeção mundial, têm um peso político.
Depois do banho de multidão no México, muitos esperavam uma viagem mais “técnica” a Cuba, país menos católico e com uma repercussão internacional muito assinalável, como aliás se pôde comprovar pelo acompanhamento mediático dos últimos dias.
Consciente do desafio que se lhe apresentava na ilha dos Castro, o Papa fez questão de sublinhar, logo no voo inicial, que a Igreja não era um poder político ou um partido, mas uma autoridade moral.
Foi desde esse espaço religioso e ético que Bento XVI se dirigiu à população cubana: crentes ou não, exilados, presos, simples agricultores ou descendentes de escravos, todos tiveram espaço nas reflexões de um Papa que, ao contrário do regime comunista, deseja o fim do marxismo e o surgimento de uma sociedade revigorada por novas soluções.
Mais do que críticas ou ultimatos, o líder da Igreja Católica levou uma mensagem de esperança no futuro, numa ilha tantas vezes isolada, empobrecida por um embargo que o próprio fez questão de criticar, da mesma forma que alertou para a necessidade de liberdade religiosa e de plena participação dos católicos na vida da sociedade cubana.
No balanço desta viagem, uma nota para quem tem a missão de avaliar o que se passou nestes dias: as expectativas de quem vive fora de Cuba não coincidem, necessariamente, com os anseios da população, as “justas aspirações” a que o Papa se referiu por duas vezes.
Foi o próprio presidente da Conferência Episcopal local, por exemplo, a destacar o orgulho do nome "cubano" e a falar da desconfiança da população face a qualquer “ingerência estrangeira”. Fica claro que, para os responsáveis católicos, qualquer solução para a reconciliação nacional e a renovação do país devem partir de dentro e não de imposições unilaterais.
Cuba e o mundo precisam de mudanças, disse Bento XVI. Cuba e o mundo, porque a liberdade é para todos.
Octávio Carmo
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