03/01/11

Dois mil e Deus

Que 2011 chegue em festa, como uma página em branco que Deus nos coloca diante das mãos, para preenchermos com as marcas do melhor que existe em nós

2010 chega ao fim e volta em nós este sentimento de impotência perante a inexorabilidade do tempo, as tantas expectativas que ficaram por cumprir, as surpresas, o sabor amargo de uma crise que, em muitos momentos, apagou do mapa toda e qualquer boa notícia que cada dia pudesse trazer consigo.

É ainda demasiado cedo para perceber se 2010 será um ano para a história de Portugal, mas é já certo que fica na história da Igreja Católica: seja pela presença de Bento XVI entre nós, seja pela visibilidade cada vez maior da Igreja Católica em questões sociais, este ano foi uma espécie de “dois mil e Deus”, como há muito não se via.

Por mais que se procure afastar a religião do espaço público, a sua presença capilar nas mais diversas áreas da vida social faz com que surja, quando menos se espera, ainda com mais força.

Esta força torna-se respeitada e admirada quando aplicada em favor dos mais desfavorecidos, dos que não têm voz, dos esquecidos de uma sociedade demasiado preocupada com «ratings» e mercados para perceber que o maior capital que tem a defender é cada pessoa, na sua dignidade.

E agora, preparamo-nos para 2011. Os ciclos que marcam a nossa vida levam a que cada ano novo seja, mais depressa do que nós gostaríamos, um ano velho, alvo de balanços e de comparações com outros que, antes deles, nasceram cheios de promessas de um mundo novo.

Procuramos, instintivamente, revisitar os nossos passos, inspeccionar os caminhos por onde andámos, rever marcas dos locais e pessoas que nos marcaram, como se isso mudasse o passado e redefinisse o presente. Voltar atrás sobre as nossas pegadas não nos regenera, apenas nos afunda. O nosso caminhar pertence ao futuro.

Cada ano corre, inexoravelmente, parecendo igual a todos os outros que o precederam, mas a chave para mudança reside não numa qualquer força cósmica que nos transcende ou em fórmulas mágicas, mas dentro de cada um. Para que a impotência não nos domine.

Que 2011 chegue em festa, como uma página em branco que Deus nos coloca diante das mãos, para preenchermos com as marcas do melhor que existe em nós, num momento em que são particularmente importantes a solidariedade e a esperança para uma vida nova.

Octávio Carmo


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