Entre festejos e funerais
O mundo mediático vive uma espécie de delírio, numa cadeia comunicativa interminável onde uns puxam pelos outros, notícia atrai notícia, espectáculo vence espectáculo, novela esmaga novela, ultrapassando funeral ou festa.
Jornalistas ao molhe, acontecimento ou boato, bom ou mau, aonde vão todos e todos contam depois de se acotovelarem, correrem para o primeiro título; a imagem mais forte, a primeira mão, o exclusivo, o mais sensacional. Esse carro puxado por dois cavalos – o dinheiro e o poder - corre no grande circo com a multidão a gritar pelos gladiadores, comprando, preferindo, aplaudindo, exumando cadáveres, elegendo vedetas, descobrindo segredos, violando éticas, ganhando audiências.
Mas também pondo o mundo em comunicação e festa, compondo nonas sinfonias, oferecendo rostos comovidos no canto dos seus hinos, comovendo pátrias representadas por onze peças que dançam estoicamente no relvado para colocar uma bola num espaço largo e estreito a que chamam baliza. E no corte, vibrando com a raquete de vaivém durante longas horas de luta entre atletas de eleição. E faz correr milhões em euros e dólares, apenas porque lutam mais, fintam melhor ou defendem um tiro de chumbo chegado de qualquer recanto dum relvado climatizado ou ringue de veludo para conforto e eficácia dos atletas.
Assim vivemos. Na voragem da notícia que engoliu a tragédia de ontem, divertiu a plebe e lhe desviou o olhar para outro acontecimento. Inventámos a roda, a electricidade, pusemos asas nas máquinas, enchemos o mundo de sons e imagens dentro da nossa casa e eis-nos, planeta irrequieto, nesta aventura, voragem do tempo que se compra e vende ao segundo.
É nesta estonteante viagem que se encontra e realiza o Reino. De Deus. Não vale a pena inventar outro ou aniquilá-lo a golpes de maldição. Importa remi-lo das suas misérias e celebrá-lo nas suas grandezas. Este é o nosso lugar e o nosso tempo. Sabemos a Quem iremos. E quem tem Palavra e Palavras de vida eterna.
António Rego
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