25/04/12

Para lá dos números

A Igreja tem uma proposta para quem está em busca de si próprio, uma alternativa espiritual e concreta à identidade atropelada pela altíssima velocidade a que se desenrolam os dias O inquérito que o episcopado católico português promoveu a milhares de pessoas, através da Universidade Católica, mereceu as mais variadas considerações, com valorização e desvalorização dos números conforme a perspetiva de abordagem e com um primeiro olhar para as consequências que, necessariamente, se têm de assumir. Entendo, a este respeito, não se devem procurar respostas fora do que é essencial para os católicos: uma espiritualidade unitária, que apresenta respostas para as questões essenciais da vida, individualmente e em sociedade – esse sentido é, aliás, valorizado por boa parte dos inquiridos. A Igreja tem uma proposta para quem está em busca de si próprio, uma alternativa espiritual e concreta à identidade atropelada pela altíssima velocidade a que se desenrolam os dias, debaixo do bombardeamento de obrigações, preocupações, projetos e necessidades que nem sempre são fáceis de cumprir ou satisfazer. Aos que fazem parte desta Igreja compete sair em “missão”, indo ao encontro de um país cada vez marcado pela secularização e indiferença religiosa, bem como pelo relativismo moral. Não há Igreja sem anúncio, sem ação, ativa e criativa, assumindo uma missão que não se concebe já como partida rumo a paragens distantes, mas em propostas a quem vive mesmo ao lado, numa linguagem que exige cada vez mais traduções culturais. Cada vez mais, neste processo, é importante lembrar o que Bento XVI veio dizer aos católicos portugueses há dois anos: menos conceção particular(ista) da fé, consequências práticas na vida social, ação perante as dificuldades geradas pela crise e um compromisso público inequívoco. Este é um esforço que passa, em grande medida, por um protagonismo dos leigos, que compete aos bispos reconhecer e, naturalmente, orientar, porque cada vez mais a fé católica deixa de ser património comum das sociedades, mas também se multiplicam bolsas de renovação, num momento em que o país e a Europa definham, mergulhados num cenário de crise socioeconómica, mas também cultural e espiritual, que coloca em relevo a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da Igreja. Octávio Carmo

VER [+]

17/04/12

CESAREIA: Um projeto de salvaguarda do património bibliográfico da Igreja Católica em Portugal

Otimizar tarefas, promover a cooperação institucional e assegurar a eficácia de um trabalho em rede são alguns dos grandes desafios deste projeto Na vasta tarefa de salvaguarda e valorização do património cultural da Igreja, agenciar formas de apoio às dioceses tem sido, de longa data, uma preocupação do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja. Conscientes da impossibilidade de acorrer, cabalmente, à premência das muitas necessidades neste domínio, constitui atual prioridade de atuação o desenvolvimento do projeto CESAREIA. Iniciativa que visa estabelecer uma dinâmica global de atuação na área do livro e das bibliotecas, consentânea com os atuais padrões de intervenção, pretende ainda assegurar uma mais ampla divulgação dos acervos, por norma valiosos e desconhecidos do público em geral, em ordem à sua partilha e respeito pela identidade específica de que são portadores. Proporcionando às instituições integradas o acesso a um relevante leque de ações, nos domínios da catalogação, normalização e conservação preventiva, destaque merece ainda, nesta fase dos trabalhos, a disponibilização online de um catálogo coletivo, a implementação de um sistema de gestão profissional e a requalificação técnica dos agentes envolvidos. Projeto que abrange um elevado número de instituições (bibliotecas diocesanas, de seminários, universitárias, de colégios, ordens religiosas, entre outras), apenas numa consequente e comprometida união de esforços poderá ancorar-se essa tão almejada potenciação de recursos. Otimizar tarefas, promover a cooperação institucional e assegurar a eficácia de um trabalho em rede, são alguns dos grandes desafios deste projeto. O sonho de um lugar coletivo, de acesso comum, partilha e conhecimento, nasce pois desta concertação de sinergias. Ao repto lançado, correspondeu já um considerável número de bibliotecas, neste que se augura como um projeto referencial, no processo de salvaguarda e valorização do património cultural da Igreja Católica em Portugal. Sandra Costa Saldanha

VER [+]

10/04/12

A grande manchete

Ao despertar de forma decisiva a experiência religiosa em cada pessoa e em cada comunidade, o acontecimento da ressurreição interpela também comunicadores a acentuar essa novidade na história das religiões. E desafia o marketing, a imagem, as linguagens. Nos últimos anos, a troca de mensagens por ocasião da festa da Páscoa oferece-me a oportunidade de dizer o acontecimento celebrado a partir de gírias da comunicação. E formulo votos de “Feliz Páscoa” pela evocação da maior manchete de todos os tempos: “Ressuscitou, não está aqui!” Se, em cada manhã (quando o ritmo das notícias era pautado pelas edições matutinas) ou em cada instante (nos tempos da informação em redes virtuais) as rotinas dos media giram em torno de uma notícia principal - a manchete -, o decurso da história tem num acontecimento o momento radicalmente novo e inaugurador de uma nova ordem. Encontra no facto da ressurreição a grande manchete da humanidade, por instalar a certeza de que a morte não é o “fim da linha”, que há um sentido para além das contingências, um horizonte mais largo, um limiar de futuro depois do limite dos dias “desta vida”. Terei de reconhecer que a evocação desta manchete única em toda a história da humanidade raramente mereceu um retorno que fosse além do “obrigado, igualmente!”, quando encontraria nesse argumento razão suficiente para admitir a possibilidade do seu realismo e da centralidade que tal acontecimento tem na história, sempre dita antes ou depois do ressuscitado. É, por isso, com alguma insistência que retomo a figuração jornalística para falar da ressurreição, especificamente da forma como se comunica, em cada época, essa grande manchete de todos os tempos. Sendo o acontecimento central na relação de Deus com a pessoa humana, está amplamente estudado pela teologia, referenciado no percurso dos livros da Bíblia e sentido por tradições da espiritualidade cristã. Mas não surge como “marca” do cristianismo. E a evocação do tema ressurreição surge sempre como uma das etapas de um percurso sofredor - paixão, morte e ressurreição - e não como um momento inaugurador, do querer de Deus para a vida humana e de intervenção do Senhor na história. Ao despertar de forma decisiva a experiência religiosa em cada pessoa e em cada comunidade, o acontecimento da ressurreição interpela também comunicadores a acentuar essa novidade na história das religiões. E desafia o marketing, a imagem, as linguagens. A provocação estimula quem olha cada circunstância como oportunidade para ativar a criatividade e inventar novas formas para dizer verdades de todos os tempos, assumindo que “há ainda mercado para falar da ressurreição ao mundo” (ver entrevista nas páginas 8 e 9). Paulo Rocha

VER [+]

04/04/12

Comemorar e refletir

Considero que o grande desafio que hoje se coloca à Renascença (e aos demais meios de comunicação social da Igreja) diz respeito às pessoas

Sonhada por Monsenhor Lopes da Cruz, a Rádio Renascença completa, em 10 de abril, 75 anos de serviço à Igreja e a Portugal.

A data merece festiva comemoração; mas aconselha, sobretudo, que se reflita sobre o presente e o futuro de uma instituição que não vive isenta de desafios, nem da tensão dos riscos.

Comemorando, a Renascença reconhece o entusiasmo lúcido de quem pensou a rádio como meio de intervir servindo; e reconhece, também, o esforço profissional e crente de quem desenvolveu a emissora católica, tornando-a uma referência incontornável no setor da comunicação social.

Refletindo, a Renascença reafirma a sua identidade, nem sempre percebida - quer pelos que se possam deixar contagiar pela erosão das convicções, quer pelos que não escondem o desconforto de encontrar no Evangelho a necessidade de ir a outros lugares ou almoçar com publicanos…

Sei, por experiência própria, como é difícil este caminho e fácil a imperfeição. Considero, por isso, que o grande desafio que hoje se coloca à Renascença (e aos demais meios de comunicação social da Igreja) diz respeito às pessoas. Ou seja, à necessidade de encontrar e formar quem seja capaz de transmitir fiel e credivelmente a Mensagem nas linguagens e tecnologias deste tempo; e o faça de coração aberto a quem desenvolve esforço idêntico, dando visibilidade corporativa a ações que, sendo embora individuais, não têm de ser individualistas!

Esta última afirmação remete-nos, contudo, para outro patamar, ainda que suportado em clara doutrina (Aetatis Novae, 17): «o trabalho dos meios de comunicação social não é só uma atividade complementar que se vem juntar à outras atividades da Igreja: a comunicação social tem, com efeito, um papel a desempenhar em todos os aspetos da missão da Igreja». Daí, a lógica advertência: «não é suficiente ter um plano pastoral da comunicação; é necessário que a comunicação faça parte integrante de todos os planos pastorais, visto que a comunicação tem, de facto, um contributo a dar a qualquer outro apostolado, ministério ou programa».

Padre João Aguiar Campos

VER [+]